Qua, 30/07/2025 - 10:43
O Centro Social Nossa Senhora de Fátima, em Macedo de Cavaleiros, é a única entidade no distrito que promove o acolhimento familiar, uma medida temporária para crianças que são retiradas às famílias e recebidas por quem lhes pode dar casa e amor. No distrito, esta resposta estava adormecida, até que há dois anos o centro começou a promover o acolhimento de crianças. Neste momento, há já quatro famílias de acolhimento e oito crianças acolhidas.
Conceição Paradela e Armando Lopes, de 66 e 64 anos, são uma das famílias de acolhimento do distrito. Fizeram vida na capital e agora residem numa aldeia no concelho de Torre de Moncorvo.
O casal acolhe três irmãos, de dois, três e cinco anos. É uma verdadeira aventura. “Não tem sido fácil, é verdade. Mas nós sentimos que também temos essa obrigação. É uma solidariedade mais verdadeira. É conseguirmos dar a estas crianças atenção, cuidado, carinho, orientação de vida”, disse.
Com a ideia de apoiar crianças ucranianas, o casal chegou à Embaixada da Ucrânia em Portugal, tendo sido encaminhado para a Segurança Social e, depois, para esta resposta. Foi assim que conheceram o acolhimento familiar.
“A família de acolhimento funciona como uma reposição da normalidade de uma família. Vai repor a atenção, o afeto, esta dinâmica de normalidade, de ir ao supermercado. A primeira vez que eles foram ao supermercado, foi comigo. Há uma realidade, há um modelo de família. Quando se está numa instituição, é realmente diferente”, frisou.
Ajudar estas crianças é algo que Conceição Paradela vê como uma missão. “É uma missão que cumprimos com orgulho, mentalizados que estamos a fazer o nosso melhor. Quando eles saírem, sofreremos. Eles sofrerão também. Mas nós somos adultos e cumprimos os propósitos que nos propusemos”
Na aldeia, onde o tempo prefere caminhar do que correr, os irmãos crescem felizes, admite Armando Lopes.
Adrienne Jackson é da Irlanda, país onde esta resposta é “muito conhecida”. Rumou a Portugal há 30 anos. Tinha, à época, 21 e por cá ficou. Reside no concelho de Mirandela e acolhe dois irmãos, de cinco e três anos. Ser família de acolhimento era um sonho mas no início foi complicado.
“Não tinham hora de dormir, não sabiam sentar à mesa. Agora, eles são parte da família, a minha família adora-os, os vizinhos, a escola. São duas crianças fabulosas, são super inteligentes, aprenderam tanta coisa, sabem falar inglês. Sabem estar, que era uma coisa importante para mim. A coisa mais importante que eles têm agora é terem consciência de que merecem estar aqui, que são importantes e que têm amigos, respeito, regras, castigo e deveres da casa”, contou.
Esta resposta é gerida por quatro técnicos do Centro Social Nossa Senhora de Fátima: duas psicólogas, um assistente social e uma educadora social. A coordenadora da resposta, Sónia Almeida, esclarece que estas crianças são, depois, novamente integradas na sua família de origem, caso haja essa possibilidade, ou seguem para adoção. Para as famílias de acolhimento é complicado vê-las partir mas o que interessa é a ajuda que se presta a alguém que, de facto, precisa dela. “Se me diz que criam laços e que depois as crianças vão sair da casa dessa família, sim, isso vai acontecer. Mas se pensarmos no superior interesse da criança e não em nós, é um bem, digamos assim, que se está a fazer a uma criança”, explicou.
As crianças que seguem para acolhimento familiar são, normalmente, retiradas às famílias pelos tribunais e pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Além disso, há ainda crianças que podem já estar em casas de acolhimento residencial e que se enquadram nesta resposta social.
As famílias que queiram acolher crianças têm formação inicial e contínua, acompanhamento técnico da equipa, compensação financeira para os encargos com as crianças, bem como direitos laborais, tal como todos os pais.
Atualmente as famílias de acolhimento podem ser candidatas à adoção, algo que, até há pouquíssimo tempo, não era permitido.