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Falta de caixas multibanco em mais de 80% das freguesias de Bragança e encerramento de agências bancárias agravam acesso ao dinheiro

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Qua, 23/07/2025 - 10:56


Mais de 190 freguesias do distrito não dispõem de caixas automáticas ou agências bancárias

Num país onde o acesso ao numerário continua a ser essencial para grande parte da população, o distrito de Bragança destaca-se como um dos mais vulneráveis em termos de cobertura de caixas automáticas e agências bancárias. Segundo um estudo de 2022 do Banco de Portugal, mais de 80% das freguesias do distrito de Bragança não têm uma única caixa automática.

Mais de 190 freguesias do distrito não dispõem de caixas automáticas ou agências bancárias. Grande parte da população é obrigada a percorrer quilómetros para levantar dinheiro e tratar de questões financeiras nos bancos. 

Em São Martinho de Angueira, no concelho de Miranda do Douro, muitos habitantes preferem atravessar a fronteira para Alcanices, em Espanha, para fazer levantamentos, mesmo com as comissões bancárias. A alternativa mais próxima, como Vimioso ou Miranda do Douro, está a mais de 20 quilómetros.

Domingos Cordeiro, morador de São Martinho, conta que, para tarefas do dia-a-dia, como pagar faturas, a solução é a Junta de Freguesia. Mas, quando precisam de levantar dinheiro, o percurso “é longo e complicado”.

António Galhardo é residente e dono do café da aldeia, segundo ele a população “tem de andar sempre com dinheiro no bolso”.

Na aldeia ao lado, em Genísio, vive-se uma realidade semelhante. A vários quilómetros da cidade e da vila de Vimioso, os habitantes têm poucas alternativas para tratar das contas do cotidiano. A única solução é aderir aos débitos diretos e mesmo assim “a situação não fica totalmente resolvida”, conta Francisco Gomes, morador da aldeia,

A digitalização é uma das soluções apontadas, mas, como explica Lísis Fernandes Gonçalves, autarca da região, muitos idosos “não têm acesso a meios eletrónicos ou confiança para usar o MBWay e outras ferramentas digitais”, o que "agrava ainda mais a situação”.

A realidade não é diferente em muitas outras aldeias da região, onde o encerramento de agências bancárias tem impactado diretamente a vida dos residentes. Há bancos que abrem portas dois dias por semana. O “medo de mais balcões fecharem” preocupa a autarca de Genísio, Edite Lopes.

No distrito de Bragança, há em média uma agência por cada km², mas a realidade é desigual. Em 2022, havia 62 balcões, atualmente são apenas 59. Municípios como Alfândega da Fé, Vimioso e Vinhais têm apenas 2 ou 3 agências, e em algumas localidades, uma única cobre mais de 100 km², como em Vinhais e Mogadouro.

Esta realidade causa transtornos para quem vive nestas localidades afastadas destes serviços. Para a população o sentimento é claro, no interior, continua-se a remar contra a maré.

No distrito cerca de 42% da população vive em freguesias sem acesso a dinheiro vivo. Acrescido ao encerramento das agências bancárias e à digitalização dos serviços financeiros a situação, no distrito, é cada vez mais alarmante.

 

Jornalista: 
Cindy Tomé