Seg, 22/09/2025 - 08:29
Para garantir que a língua mirandesa não morra, nos próximos anos, é urgente criar dicionários, glossários e muito mais. É também fundamental que os manuais para aprender a língua na escola vão para a frente, sendo que se construíram maquetes, para dois livros, em 2023.
António Alves, linguista, admite que não se pode esperar mais tempo, já que todos estes projetos essenciais levam alguns anos a criar-se. “Onde queremos utilizar o mirandês, como o queremos utilizar: isso tem de ser pensado no imediato para passar a médio/longo prazo. Nós não temos dicionários de referência em mirandês e temos de pensar dicionários etimológicos e bilingues. Temos de os pensar hoje que é para os ter daqui a 10 anos. Se os pensarmos amanhã… é um dia perdido”.
Ao longo dos últimos três dias, o mirandês voltou a ser celebrado na Festa das Línguas, iniciativa que é realizada pela FRAUGA. António Fernandes, natural de Picote, aldeia que acolhe a iniciativa desde o seu começo, admite que aprender a língua na escola não chega. “Aprendi a falar mirandês e só aprendi a falar português quando foi pela escola. Agora há muitos garotos que querem aprender, mas ensinam-lhe na escola e eles não se chateiam nada em aprender. Nós, aqui, ainda vamos falando, mas os garotos não se chateiam com nada e, enquanto não se mentalizarem de que têm de falar, não adianta, porque eles é que são o futuro da língua”.
Jorge Lourenço, da FRAUGA, esclarece que a iniciativa tem tido bastante sucesso, apesar de esta ter sido apenas a terceira edição, e que há vontade de que esta também aconteça em Espanha. “Há disponibilidade, manifestação de interesse, dos nossos colegas, asturianos e leoneses, de poderem acolher a festa nos próximos anos. Temos de nos organizar para ver qual é a melhor forma de fazer as coisas”.
A Festa das Línguas decorreu ao longo dos últimos três dias, em Picote. “O fio das palavras: os contos que nos aproximam” foi o tema desta edição, que contou com palestras, um concerto dos mirandeses Pica & Trilha, a apresentação do livro ‘Paisagens Literárias’, da Academia de Letras de Trás-os-Montes, música de rua, atuações de pauliteiros, uma missa em língua mirandesa, contadores de histórias, entre outras atividades para celebrar a diversidade linguística, com foco nas comunidades e nas origens asturo-leonesas, onde se inclui o mirandês.
Escrito por Brigantia