Cerca de cinco mil agricultores protestaram em Mirandela contra o fim das direcções regionais

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Qui, 26/01/2023 - 14:30


Cerca de cinco mil agricultores protestaram, hoje de manhã, em Mirandela. A manifestação foi organizada pela Confederação dos Agricultores de Portugal

Os agricultores, que vieram de vários pontos do distrito, da região Norte e até mesmo do país, dizem estar a perder cada vez mais competitividade face a Espanha, reclamam mais apoios, afirmam que há atrasos no pagamento dos subsídios e que são curtos, garantem que se sentem abandonados pelo Governo e temem pela extinção das direcções regionais de Agricultura e Pescas. “O Governo faz o favor de nos tirar tudo. Quem decide não, sabe, em parte, o que anda a fazer. Se calhar, metade dos que lá estão nem uma alface sabem plantar”, disse Mário Augusto, agricultor de São Pedro Velho, no concelho de Mirandela, que referiu ainda que a possível extinção da direcção regional “é uma péssima ideia”. “Não consentimos que nos estejam a atrofiar da maneira que estão a fazer. havíamos de pôr uma bandeira espanhola do Marão para cá porque já muito que fomos vendidos. Isto é tudo uma fantochada. Se não fossem as ganchas a fazer alguma coisa na horta já tínhamos morrido”. vincou José Luís Ramos, de Vale de Gouvinhas, também em Mirandela. “A ministra, o nosso Governo, está a desprezar os agricultores. O Ministério da Agricultura está a ser desmembrado”, lamentou José Azevedo, da Maia. “Os apoios não chegam, são curtos, cada vez mais curtos. Dá vontade de desistir”, referiu Evaristo Martins, de Vilar Seco, no concelho de Vimioso.

A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, já esclareceu que as direcções regionais de Agricultura não vão ser extintas, no âmbito da transferência de competências para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional. Ainda que não o sejam, a integração nestas estruturas não agrada nem aos agricultores nem ao presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa. “Se elas já são a descentralização das medidas centrais, porquê agora concentrá-las nas CCDR’s, que, no fundo, são aglutinadoras de medidas administrativas? A agricultura é uma actividade económica, que tem particularidades especificas e tem um programa comum na política europeia. Portanto, tem que ter uma estrutura especializada. Ela existe. Porquê desmanchá-la? Dá a sensação que a agricultura é o parente pobre do nosso Governo e isso não admitimos”.

O presidente da CAP criticou ainda o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum. “Criou-se um programa especifico para a Política Agrícola Comum, o chamado PEPAC, com medidas que ainda não têm regulamentos. Provavelmente, a conjugação errada desses mecanismos vai fazer descer os rendimentos dos agricultores face ao passado”.

Mas vários outros problemas assombram os agricultores… um deles é agora nem sequer existir um secretário de Estado da Agricultura. Após a transmontana Carla Alves ter abandonado o cargo, ainda não foi escolhido um novo governante. “Agora nem sequer secretário de Estado da Agricultura temos. Cada vez que se corta um membro ao Ministério da Agricultura parece que a ministra fica satisfeita. O país pode não ter um Ministério da Agricultura? É para aí que caminhamos e não aceitamos isso”, assumiu ainda o presidente da CAP.

A manifestação juntou milhares de agricultores, junto ao recinto onde decorre a feira semanal. Os agricultores acompanharam depois um desfile de cerca de 200 tractores. Rumaram até à sede da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, onde decorram várias intervenções de dirigentes ligados à CAP.

Esta foi apenas a primeira de várias acções de protesto agendadas pela CAP. A segunda está marcada para Castelo Branco, no dia 30 de Janeiro.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves