Ter, 08/11/2022 - 16:49
Durante um debate sobre ordenamento do território e parques eólicos, promovido, em Mirandela, por várias associações ligadas à arqueologia, o botânico espanhol, Antonio Crespi, Professor do Departamento de Biologia e Ambiente da UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – afirma que o estudo de impacte ambiental, que serviu de suporte ao operador para ver aprovado o investimento de 30 milhões de euros na instalação de seis aerogeradores, “é uma fraude”.
Este docente da UTAD, em Vila Real, não tem dúvidas que aquilo que está escrito no estudo de Impacte ambiental “não é a realidade da serra” que a comunidade científica já apelida de Montanha Sagrada. “Estamos perante um problema grave de impacto ambiental, porque o estudo é sustentado num conjunto de cálculos potenciais, ou seja, o que é a base de análise do património natural da serra é falso e do meu ponto de vista uma fraude para o Estado porque está a contar uma coisa que não é verdade”, sustenta.
Para este botânico espanhol, a avaliação “devia ser repetida”, alegando que a serra de Santa Comba “tem vegetação autóctone única, com origem há sete mil anos” que necessita de ser preservada. Antonio Crespi defende que é necessário “parar para pensar” e só depois agir. “A população dos concelhos limítrofes de Mirandela não vão usufruir deste parque, pelo que não sei até que ponto servem estas políticas, e é preciso ver realmente o que querem fazer e se compensa dar cabo deste património”, afirma.
Este docente da UTAD sublinha que a serra de Santa Comba “conta-nos a história de Portugal”, pelo que, se o parque eólico avançar, Antonio Crespi considera que o povo português vai ignorar a sua história. “Estamos a destruir a cultura de um povo”, lamenta.
No debate sobre esta temática, o arqueólogo Luís Pereira deixou críticas ao próprio Estado por entender que está a contribuir para o problema e não para a solução. “A máquina do Estado está a contradizer-se porque se por um lado quer proteger as figuras rupestres dando início ao processo de classificação, por outro, concede autorização para construir o parque eólico. Então em que ficamos?”, questiona.
Para a comunidade científica, a solução passa por suspender a instalação do parque eólico, caso contrário vai destruir-se uma das zonas arqueológicos mais importantes da Península Ibérica, da Europa e do mundo.
Recorde-se que, há duas semanas, a Federação Internacional de Arte Rupestre e o Departamento de Ciências e Técnicos do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto enviaram cartas ao Presidente da Assembleia Municipal de Mirandela a apelar à suspensão da construção daquele parque eólico.
O assunto vai mesmo ser discutido numa reunião extraordinária daquele órgão autárquico na próxima sexta-feira.
Escrito por Terra Quente (CIR)
Foto: Rádio Terra Quente