Pós-pandemia: brigantinos divididos entre a esperança e o pessimismo no regresso à normalidade

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Qui, 08/04/2021 - 09:17


A humanidade não estava a contar atravessar uma pandemia, que a deixasse em suspenso. As pessoas viram-se, do nada, com as rotinas trocadas e tiveram que se habituar, num curto espaço de tempo, a um novo normal

Quando se declarar o fim da Covid-19, há brigantinos que acreditam que tudo regressará à normalidade. Ainda assim, há outros que preveem que a vida não volte a ser o que era. "O que eu acredito é que nos primeiros tempos haja receio em conviver e estabelecer novos contactos, mas que, depois, com o passar do tempo, tudo volte à normalidade até porque as pessoas estão ansiosas para que isso aconteça", disse Andréa Ferreira, advogada. “Este medo que temos hoje, do nosso amigo e do cidadão comum, acho que vai ficar um pouco interiorizado. Acho que vai custar a despoletar para a vida espontânea”, assinalou Armando Rebelo, proprietário de uma loja no centro da cidade. "Enquanto não houver imunidade de grupo, as pessoas vão ter receio, mas depois penso que serão as mesmas. Acho que as pessoas deviam tentar ajudar mais o próximo porque com a pandemia vimos que há muita gente a precisar de apoio e não lho é dado".

Carlos Afonso é licenciado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa e doutorado na mesma área pela Universidade de Brasília. O sociólogo, docente no Instituto Politécnico de Bragança, afirma que o regresso ao dito normal será difícil e há muitas pessoas que não voltem a ser o que eram. "Romantizamos que vai ser uma festa muito grande, que nos vamos abraçar como não fizemos nos últimos tempos, mas a verdade é que vai ser um regresso à normalidade muito grande. As pessoas vão ressentir-se da restrição das liberdades individuais. Isto não mata mais mói. Há pessoas que não vão confiar que o assunto esteja resolvido. Creio que daqui a cinco anos, mesmo depois da pandemia ser um assunto do passado, se assista a pessoas a sair de casa só se necessário e com máscara".

Bruno Pires, licenciado em Sociologia pela Universidade da Beira Interior, também considera que o regresso à normalidade será demorado mas acredita que tudo voltar a ser como era antes. Inicialmente, acredito que haja algum receio, que será um bocado a ressaca desta crise de saúde pública, mas, conforme o tempo vá passando, acho que tudo ser vai regularizar porque a cultura a que estamos habituados está de tal forma entranhada que faz com que não mude grande coisa. As pessoas também estão cansadas e essa exaustão faz com que mais facilmente venham para a rua".

Em termos mentais, a pandemia pode, de facto, mexer com a saúde das pessoas. É esta a opinião de Manuel Guimarães, psiquiatra desde 2019. O médico considera que a pandemia trouxe como positivo o facto de se falar mais de saúde mental e ajudou a perceber que qualquer pessoa pode sofrer um distúrbio. "A pandemia veio levar a uma disrupção muito grande das nossas rotinas e, o facto de estarmos mais isolados neste momento, pode levar-nos a estar mais centrados em sentimentos de angústia e tristeza. Uma das coisas positivas, se assim se pode dizer, que a pandemia nos trouxe, foi começar a pensar mais a saúde mental e que ter um episódio de maior angústia ou desorganização é algo que pode surgir a qualquer pessoa".

A vida como se conhecia parou. Fecharam as escolas, as lojas, os cafés, os restaurantes, os museus e os teatros. Os beijos, abraços e apertos de mão ficaram de lado. Resta agora esperar que a pandemia acabe.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves