Páscoa incerta para criadores de cabrito e cordeiro

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Qui, 25/02/2021 - 09:18


A venda de cabrito e cordeiro vai levar a que a Páscoa seja de angústia para alguns criadores mas de alívio para outros. Pela região, as preocupações entre as associações também já são algumas

Os criadores de cabrito e cordeiro certificado, na distrito, começam a antever problemas, temendo que os animais fiquem nas corriças.

Tiago Melim, tem 42 anos e é criador de cabras de raça serrana, em Murça. É um dos 200 associados da Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana e foi através da entidade que no ano passado, apesar do cenário se ter mostrado bastante negro, conseguiu dar a volta à situação e vender os animais. Este ano, prevê algumas dificuldades mas tem esperança de sobra. “Várias pessoas que nos encomendaram o cabrito continuaram a comprá-lo durante o ano e esperemos que assim aconteça também na Páscoa. Com esforço, conseguiremos vender”.

O criador considera que o mais importante é que haja união. “Foi um ano extremamente criativo para se conseguir vender os produtos, tanto o queijo como o cabrito. Todos juntos, sendo organizados na comercialização, facilita imenso”.

Carlos Matias também é criador de raça serrana e é de Vilar Chão, no concelho de Alfândega da Fé. No ano passado também foi a associação que lhe valeu e acredita que agora há-de correr tudo bem. “Vender vendem-se bem. Vendi igual porque foi a associação que me os comprou, pelo valor justo. Havia pessoas que os queriam comprar por trinta euros mas vendi-os por 50. Tomara eu mais para vender”.

E se as vendas são boas, os apoios nem por isso. Talvez seja esta a causa de nenhum dos filhos lhe querer seguir as pisadas. “Se me dessem mais algum também o recebia, mas se não derem também me desenrasco. Tenho dois filhos que me ajudam nas horas vagas, mas estão a estudar e querem fazer a vida deles”.

Arménio Vaz é o presidente da direcção da associação a que pertencem estes dois criadores. Depois de no ano passado se ter vendido “de norte a sul”, confirma que a salvação passa pela fidelização de vários clientes. “Devido à informação com que ficámos, de contactos, as pessoas continuam a aderir e penso que não teremos dificuldade em escoar o cabrito”.

Para Arménio Vaz o mais preocupante é o desinteresse dos jovens pela actividade. “Ou de hoje para amanhã há incentivos fortes para que a juventude se interesse pelo trabalho ou há raças que estão em perigo de extinção. O pessoal mais jovem não quer abraçar este tipo de trabalho”.

O cenário de vendas não é positivo para todos. Andrea Cortinhas, secretária técnica da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa, diz que as dores de cabeça já começaram. “Vai ser mais um ano muito complicado a nível de vendas. Vamos ter que gerir a situação de forma criativa. Já no ano passado, entre vender zero e vender alguma coisa, tivemos que nos reinventar e começámos a fazer as vendas online, através do Facebook”.

No Natal passado as vendas foram poucas e a quadra trouxe um problema: muitos animais não foram vendidos com a Denominação de Origem Protegida. “Houve muita procura de negociantes externos. Levaram cordeiros bastante pequenos. Nós optamos por não trabalhar esse produto e os criadores optaram por fazer negócios exteriores. O ano de 2020 foi péssimo”.

Jorge Laranjinha, director administrativo da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Bragançana, também não está muito confiante. “Vão-se vender mas a percentagem de venda é muito baixa. Com o levantamento do confinamento venderam-se, em 2020, e vende-se, mas não é o preço nem a altura desejável”.

A situação faz com os preços também não sejam os ideais. Jorge Laranjinha considera que é necessário que se crie uma estrutura forte para promover os animais. “O preço que está a ser praticado não é aquele a que atribuímos o valor do cordeiro. Há muitos intermediários e o valor de lucro maior fica neles”.

A pandemia de Covid-19 trocou as voltas a muitos sectores de actividade e, em jeito de ciclo vicioso, não poupou sequer a agricultura.

A Páscoa é uma das épocas mais lucrativas para quem ainda se dedica à actividade. Contudo, os criadores transmontanos começam a dar voltas à cabeça, procurando ideias para vender os animais, que podem ser levados a preço abaixo do real valor.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves