Pandemia evidenciou fragilidades da cultura

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Qua, 14/04/2021 - 09:06


A cultura tem vindo a atravessar uma das fases mais complicadas

A pandemia veio levantar o véu e mostrar o quão frágil é este sector. Os artistas da região queixam-se da falta de apoios do Governo.

Ramiro Pires, o mágico brigantino de nome artístico Orimar Serip, há 44 anos que anda neste mundo artístico e nunca tinha estado tanto tempo sem espectáculos. Foi obrigado a reinventar-se e o computador substituiu os palcos, mas rapidamente percebeu que é “completamente diferente”.

“Não há o cheiro do pó do palco, do reagir do público. É complicado”, referiu.

Da magia ao mundo da pintura e das artes plásticas, chegamos até à pintora mirandesa Balbina Mendes. A pandemia não lhe afectou a imaginação, mas impediu o público de ver o seu trabalho. Para a artista a arte sem apreciação não é a mesma coisa, porque “as obras são concebidas para que sejam desfrutadas pelo público”.

“O mais penoso é que eu investo muito de mim em cada pintura. São obras muito elaboradas. Invisto tanto e não tenho público para ver”, disse.

Só nesta segunda fase de desconfinamento os museus puderam voltar a abrir. Apesar deste regresso, Amândio Felício, director do Museu Abade de Baçal, em Bragança, diz que a procura tem sido “residual” e por isso as suas expectativas não são muito altas.

“Ir ao museu é algo que eu consigo admitir que por parte das pessoas é visto como uma actividade ainda não prioritária”, acrescentou.

Já os teatros só abrirão a partir de 19 de Abril. A companhia Filandorra já poderá regressar à actividade. O director artístico, David Carvalho, diz ter conseguido manter os 15 actores efectivos, mas salientou que o apoio do Governo foi tardio.

“A grande rede autárquica, que a Filandorra tem, a maioria deles decidiu manter os apoios. Conjuntamente o apoio, embora tardio e lento, do Governo e do Ministério da Cultura conseguimos segurar todo o elenco”.

Em Bragança, o Teatro Municipal dá as boas vindas aos espectáculos a 21 de Abril. Devido ao momento de incerteza relativamente à abertura destes espaços, o teatro tem uma agenda bi-mensal.

“Este sector tem sido extremamente afectado. As pessoas que trabalham na área da cultura e o público em geral precisam disto para a sua saúde mental”, afirmou o director João Cristiano Cunha.

Os empresários do sector da música foram arrastados pela onda. O DJ Durval está parado há mais de um ano, porque não pode actuar em bares, discotecas e festivais como fazia habitualmente. O alfandeguense considera que o Governo tem que arranjar uma solução para dar rendimentos aos que trabalham da música, porque há quem não aguente mais.

“Pelo menos ao ar livre podia começar-se a fazer alguns eventos, tendo em conta as restrições. Acredito que muitos empresários estejam com muitas dificuldades e se não houver um grande apoio do Governo muitas casas nocturnas vão desistir”, apontou.

A pandemia pôs a nu a fragilidade do sector da cultura.

Escrito por Brigantia

Foto: Filandorra

Jornalista: 
Ângela Pais