Ter, 19/03/2024 - 09:03
“Francisca” estava longe de imaginar que uma amizade de alguns anos com um rapaz lhe poderia dar problemas. Tudo começou quando a namorada desse amigo “cismou” com “Francisca” e começou a tratá-la mal, fazendo até ameaças. “Recebia ameaças constantes, a dizer que me ia apanhar, que me ia fazer mil e uma coisas. Eu estive calada, porque pensava que era uma ‘panca’ e que lhe ia passar, até quase fazer um ano e numa noite recebi mais de 500 mensagens dela. Falei com a minha porque já estava cansada. Nunca me chegou a fazer nada fisicamente, mas estava sempre a dizer que tinha vontade de me bater, de me desfazer a cara e já nem era por causa do rapaz, porque isso foi passagem, mas porque cismou comigo”.
Apesar de a situação se arrastar há mais de um ano, a mãe de “Francisca” só soube do que se estava a passar no mês de Setembro. Neste momento, diz que “há duas queixas apresentadas, uma por difamação e a outra por ameaça” e não as vai retirar. “Achei por bem falar com os pais. Dirigi-me ao local de trabalho deles e fui recebida por um senhor. Pedi-lhe para falar com o responsável por aquela pessoa e ele disse-me que era o pai. Perante a expressão e palavras dele, percebi que ela era problemática. Ele pediu-me sora que falasse com a mãe. Foi o que fiz. Falei com a mãe dela. Vi que ela era muito sofrida e disse-me que a filha tinha alguns problemas psicológicos. Dei-lhe o benefício da dúvida e disse que se ela parasse nós não avançávamos com as queixas, que, entretanto, abrimos. Mas, neste momento, vamos para a frente”.
Cristina Gomes é psicóloga, em Mirandela, diz que há cada vez mais jovens a pedir ajuda psicológica por causa do bullying e cuberbullying. Explica que as vítimas se apresentam “angustiadas”, com “ansiedade extrema” e muitas vezes os pais não têm conhecimento do motivo. “É comum termos, em consulta, crianças que nos procuram. Os pais trazem-nos à consulta e dizem-nos que os filhos estão muito aborrecidos, incomodados, perturbados com tudo. Perguntamos se os filhos escondem muito o telemóvel e sim, escondem, porque ali está uma parte que os expõe e que eles não querem dar a conhecer. Deixam de fazer algumas das suas actividades, têm até recusa em ir à escola, baixam as notas”.
A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) abre um processo, não só para acompanhar a vítima, mas também o agressor. São pedidos relatórios à escola e feitas entrevistas a professores e alunos. No entanto, o coordenador da CPCJ de Bragança, Fernando Teixeira, realça que, o ano passado, não foram reportados “muitos casos”. “São cctos isolados e mais próximos de comportamentos anti-sociais do que bullying”.
A PSP de Bragança e Mirandela tem desenvolvido acções nas escolas de combate ao bullying e cyberbullying. O objectivo é chamar atenção para comportamentos que devem ser comunicados às autoridades, adianta o comissário Bruno Machado. “O bullying pode ser praticado em ambiente escolar, seja através de comportamentos ofensivos e agressivos, entre colegas, ou em ambiente digital, o cyberbullying. O que nós vamos percebendo, ao longo dos anos, abordando a temática nas escolas, é que os jovens e todo o corpo que compõe a comunidade escolar, já estão sensibilizados para estes comportamentos e até os identificam como errados e criminais”.
Em 2023, no distrito de Bragança, foram feitas 17 participações crime na PSP, relacionadas com comportamentos associados ao bullying, mas também a roubos nas escolas.
O bullying é um comportamento de ameaça, humilhação e assédio, colocando a outra pessoa numa situação de vítima, de uma forma repetida. Pode haver um ou mais agressores. Quanto ao cyberbullying, este comportamento acontece com recurso à tecnologia.
Escrito por Brigantia