Qui, 22/04/2021 - 10:31
A saudade nunca foi tão sentida como agora. Nos lares, os idosos têm a possibilidade de receber os familiares, mas o toque é proibido. João Alves está no lar da Fundação Betânia, no concelho de Bragança e a filha vai visitá-lo com frequência. Mas dois metros separam-no de uma das pessoas mais importante da sua vida.
“É um bocado chato ela estar longe e não lhe poder tocar, mas tem que ser. Tenho saudades de lhe dar um abraço, mas temos que ter cuidado com esta pandemia. Também já não vou à aldeia há muito tempo”, disse.
A filha, Júlia Alves, trabalha por turnos e tenta articular com a instituição qual é o melhor horário para o visitar. Anseia que “o vidro desapareça” o mais rápido possível, até porque “o contacto faz falta”. “Não é fácil, principalmente com o meu pai. Com isto das máscaras não se ouve da mesma maneira e eu noto que há maior dificuldade para comunicar com ele, às vezes nem sei o que lhe dizer, porque há muito distanciamento” e “não há toque”, afirma.
O lar da Fundação Betânia teve que criar um espaço próprio para receber as visitas. Segundo a directora e também presidente da União de IPSS do distrito, Paula Pimentel, nenhum lar estava preparado para uma situação pandémica.
““Eu acho que nenhum lar estava preparado para dar resposta a esta situação, quer em termos de recursos humanos, quer em termos de recursos físicos. Isto obrigou a uma adaptação e a um investimento muito grande a todos os níveis. Inicialmente foi tudo uma surpresa, uma incerteza, foi um choque”, explicou a responsável.
Belmina Correia é utente no lar da Santa Casa da Misericórdia de Bragança. Tem 93 anos e não diz que não a uma actividade, até porque a mantém distraída. Mas quando o assunto é a saudade, a resposta é clara.
Também Maria Balbina do Espírito Santo, utente da Misericórdia de Bragança, não pôde deixar de falar da saudade que tem em abraçar os filhos.
“Gostava de abraçar os meus filhos, ai se gostava. Dava-lhe abraços, tenho saudades, mas das saudades tenho que continuar a viver”, disse.
A directora dos lares da Misericórdia de Bragança, Ana Maria Pires, diz que nem todos os idosos percebem o porquê da proibição do toque nas visitas, nem porque não podem ir a casa nas épocas festivas.
“Ainda é precoce e nunca nos vamos anteceder àquilo que é dado como orientação. Aos poucos e poucos as medidas vão aliviando e é preciso ter sempre em conta a protecção dos utentes e colaboradores”, sublinha.
No lar da Fundação Betânia há ainda utentes e funcionários que não foram vacinados. Alguns idosos estavam hospitalizados quando iriam levar a segunda dose, outros são novos utentes que chegaram há pouco tempo. Já nos três lares da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, com 137 utentes, todos os funcionários estão vacinados e só dois utentes ainda aguardam a segunda dose da vacina. Ainda assim, as visitas mantêm as restrições.
Idosos dos lares anseiam poder abraçar filhos e netos. Os responsáveis destas instituições aguardam indicações da Direcção Geral de Saúde para aliviar restrições. Escrito por Brigantia.