Aumento do preço da carne para os consumidores não está a reflectir-se no bolso dos criadores de animais da região

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Qua, 22/03/2023 - 09:25


O preço da carne sobe praticamente todas as semanas. Para os consumidores é cada vez mais caro comprá-la, mas os criadores da região queixam-se de não estar a lucrar com estes aumentos

António Granjo é um dos maiores produtores de bovinos da raça Mirandesa. Tem 300 vacas. Vende os animais à Cooperativa Agro Pecuária Mirandesa. Cada carcaça é paga a 6,2 euros, o quilo, mais 20 cêntimos que no ano anterior. Ainda assim, está longe de ser suficiente para compensar os custos de produção. “Houve uma pequena subida. Acaba por ser muito pouco porque os custos de produção aumentaram muito, as forragens, as máquinas, o gasóleo, e de maneira nenhuma foi compensado com a subida da carne”.

Também Luís Vaz tem vacas e vitelas da raça Mirandesa. Afirma que o preço que lhe pagam pelos animais não é justo. Acredita que a culpa é dos hipermercados que estão a dominar o mercado. “O problema é que os aumentos não deram nada para os aumentos de produção. O preço que pagam não é justo. O ideal seria os sete euros ou um subsídio por cada carcaça que se abate. As grandes superfícies dominam o mercado todo”.

O problema afecta não só os criadores de animais, mas também quem faz fumeiro. Nelson Preto cria porcos e leitões da raça Bísaro. Dos porcos faz fumeiro e os leitões são para venda no seu restaurante. Nos tempos que correm, admite que o lucro é pouco, mas subir os preços também está fora de questão. “Da maneira como estão as coisas é que nem pensar. Depois a procura por este produto, que é um nciho de mercado, neste momento, se vamos aumentar temos receio que depois não tenha procura. Ficamos um bocadinho encurralados, prejudicados, esmagamos aqui muito a nossa margem de lucro. O leitão, não sendo uma comida barata, as pessoas depois optam por outras soluções. Estamos a aguentar os preços”.

Filipe Fernandes é proprietário de um talho em Bragança. Nesta vida há dezenas de anos, o talhante diz que nunca viu os preços da carne tão altos como agora e que, na região, os criadores não lucram com esta subida de preços porque não há animais suficientes para abastecer o mercado. Assim, vendem ao que conseguem, porque não há como concorrer com quem vende em larga escala. “Já aumentou a carne, devido à guerra na Ucrânia, no ano passado, por esta altura, depois são aumentos sucessivos. A carne de porco tem aumentado muito e a vitela já me disseram que vai aumentar outra vez. Infelizmente aqui os agricultores têm pouco apoio. As vacas são cada vez menos e os criadores vão-se desgastando por causa do preço a que os animais lhe são pagos”.

João Lavadouro também é proprietário de um talho, em Bragança. Assume que nunca vira os preços subir desta forma e que as pessoas consomem cada vez menos, porque o dinheiro não chega para tudo. “Tem subido tudo. Não há nada que não suba. Compro gado esta semana a um preço e para a semana já é outro preço, mais caro. As pessoas vêm mas compram menos e coisas mais baratas”.

O preço da carne subiu nos talhos e nos supermercados, mas criadores dizem não estar a lucrar com os aumentos. Os talhantes assumem que também não estão a tirar lucros assim tão grandes.

Os criadores queixam-se que preço de venda dos animais “não compensa” os gastos.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves / Ângela Pais