Terras de Sefarad juntou especialistas internacionais e locais para debater herança e diáspora judaica

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Seg, 24/06/2019 - 10:47


A segunda edição do Terras de Sefarad terminou ontem em Bragança. O evento que se debruçou sobre diásporas, identidade e globalização reuniu centenas de interessados nos tema. 

O presidente do município de Bragança entende que a dinâmica que se pretendeu imprimir na cidade a partir da cultura judaica desde a primeira edição da iniciativa tem-se feito sentir. Segundo Hernâni Dias, o número de visitantes do Centro de Interpretação da Cultura Sefardita ronda os 10 mil desde que foi inaugurado há 2 anos.

“Nós temos tido um acréscimo substancial no número de turistas, essencialmente vindos de Espanha. Muita gente tem visitado o Centro de Interpretação da Cultura Sefardita. Um quarto dos visitantes do centro são espanhóis, não sei se todos eles estão interessados na temática ou se é simplesmente pelo facto de virem visitar os equipamentos. Mas estou convencido que o trabalho que temos vindo a fazer, a forma como se tem promovido o evento, como temos chegado a outros territórios, permitir-nos-á, seguramente, ter esse retorno positivo, seja a nível turístico, seja a nível económico”, explicou.

A continuidade do Terras de Sefarad ainda não está garantida mas Joaquim Pinheiro da organização do evento considera que Bragança pode continuar a explorar a potencialidade da temática sefardita.

“A primeira edição tinha uma ideia de fundo, que era trazer pessoas especialistas de várias partes do mundo, de Portugal a Bragança e mostrar os espaços ligados à cultura sefardita. Como teve grande sucesso continuou-se, agora, a fazer uma segunda edição, e o município, como disse o presidente, quer continuar a desenvolver todo este trabalho à volta da cultura sefardita, que é fundamental por um lado, à recuperação do património da memória sefardita ligando à contemporaneidade e, só assim, é que podemos avançar e dar um contributo ao desenvolvimento da nossa história, da nossa cultura”, afirmou.

Para além de estudos de carácter global sobres história e herança judaica, a historiografia local também não ficou de fora do congresso.

Um dos temas abordados foi a influência da cozinha judaica na gastronomia nacional. Armando Fernandes estudou o assunto que vai dar origem a um livro, e conclui que a influência na região se pode ainda hoje ver como através dos cuscos ou de doces como rosquilhas.

“Por exemplo, os cuscos conhecidos aqui nesta região, a técnica que chegou cá é, fundamentalmente, judaica. Depois, quando vieram os muçulmanos, em 714, com Tarique, obviamente que eles também trouxeram a técnica dos cuscos, mas já não foi novidade para aquela gente. É preciso ver que era um produto caro, um produto de dias de festa. Até 1960, imperava a penúria, a dificuldade, portanto os cuscos eram para um dia de festa e era para as casas mais abonadas”, afirmou.

António Júlio  Andrade, que há muitos anos se dedica a estudar a história do judaísmo na região, abordoou o tema da inquisição e da limpeza de sangue, que influenciou durante vários séculos posteriores a luta política.

Ao longo de 5 dias Bragança foi o centro da reflexão sobre a história sefardita com a segunda edição do Terras de Sefarad – Encontro de culturas judaico-Sefarditas. Escrito por Brigantia.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro