Fotógrafos perderam negócio com o cartão do cidadão

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Sex, 14/03/2008 - 15:34


Os fotógrafos profissionais queixam-se de estar a atravessar a maior crise de sempre no sector, chegando mesmo a temer que a profissão esteja em vias de extinção. No distrito de Bragança, a queda do negócio começou a verificar-se, desde Janeiro, altura em que começou a estar disponível o cartão do cidadão, já que as fotos tipo passe são tiradas nos próprios balcões de registo civil. Para os fotógrafos profissionais os prejuízos são enormes.

A Associação Nacional dos Industriais de Fotografia (ANIF) acusa o Governo de ser o responsável por esta situação, porque o Estado está a fazer de fotógrafo quando se tira o cartão do cidadão. Com esta medida, está em causa a sobrevivência do retalho português de fotografia dada a importância da foto de identificação. “O Estado está a fazer as vezes de fotógrafos tirando eles as fotografias” denuncia Carlos Vilas presidente da ANIF.Carlos Vilas ressalva que não está contra a modernização administrativa, mas contra a forma como foi feita, dado que os fotógrafos não foram ouvidos nem achados neste processo, ao contrário do que aconteceu em outros países europeus, onde houve um entendimento entre as partes. O mais caricato é que os fotógrafos apenas estão autorizados a tirar as fotos de identificação dos bebés e acamados, porque as máquinas existentes nos balcões só estão preparadas para tirar fotografias a partir de uma determinada altura. O presidente da ANIF vai lançar o repto aos fotógrafos para fazerem uma espécie de boicote para pressionar o governo a ouvir as suas reivindicações. “Os fotógrafos não deveriam fazer as fotografias dos bebés e dos acamados porque a responsabilidade é do Governo já que ela nos foi retirada” refere. No entanto, considera que “é necessário ter coragem para o fazer senão não entra dinheiro”.O presidente da ANIF lembra que os avanços tecnológicos nesta área, com a chegada do suporte digital, a juntar à escassez de casamentos e à retirada das fotos de identificação, podem mesmo levar à extinção desta profissão Para se perceber a realidade das consequências para os fotógrafos, com mais esta medida, no âmbito do SIMPLEX, fomos ouvir dois profissionais do sector.Os fotógrafos profissionais começaram a notar os efeitos da entrada em vigor cartão do cidadão nos balcões do registo civil. Foi o caso de Vítor Pereira, fotógrafo profissional, em Mirandela, que só no mês de Fevereiro, fez menos cerca de trezentos passes, comparativamente ao mesmo mês do ano passado. “Ressentimo-nos muito, há uma quebra muito grande relativamente ao ano passado” refere Vítor Pereira acrescentando que “em Fevereiro fiz menos 300 passes do que no mesmo mês do ano passado e isso significa quase três mil euros”. Este fotógrafo diz ainda que em 2007 facturou cerca de 18 mil euros em passes e “o BI corresponde a cerca de 70% deste tipo de fotografia”Outro profissional de fotografia, Gustavo Carvalho, não tem dúvidas que a profissão pode estar em vias de extinção. “O prejuízo é significativo porque a foto tipo passe é o principal meio de subsistência na época baixa” e não tem duvidas que esta profissão “é para desaparecer tal como o alfaiate”.Este fotógrafo diz que as fotos tiradas no registo civil não podem ter a mesma qualidade e até dá um exemplo. “Eles não conseguem tirar fotos a bebés e eu aqui fotografei-o sentado no colo da mãe que o segurava com o braço e depois em Fotoshop eu retirei o braço e no registo civil não fazem isso”.Os fotógrafos enfrentam uma grave crise, depois da chegada do suporte digital, do decréscimo acentuado de casamentos e agora da retirada das fotos de identificação. Para os profissionais do sector, o Governo não ficou bem na fotografia.