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Potencial do trigo barbela em destaque na Jornada em Varge

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Qua, 17/12/2025 - 10:55


A aldeia de Varge, no concelho de Bragança, acolheu no sábado uma Jornada de Partilha e Debate sobre os Cereais Tradicionais, reunindo investigadores, associações, autarcas e comunidade local para refletir sobre o papel dos cereais autóctones no desenvolvimento agrícola, económico e ambiental da região.

O encontro ficou marcado pela apresentação de dois projetos complementares, o CERTRA – Desenvolvimento de Cadeias de Valor de Cereais Tradicionais, coordenado pelo Instituto Politécnico de Bragança (IPB), e o Life SOS Pygargus, dinamizado pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural. Ambos convergem num objetivo comum, valorizar os cereais tradicionais, como o trigo barbela e o centeio, criando novas oportunidades para os agricultores e reforçando a sustentabilidade do território.

Segundo Luís Dias, professor e investigador do IPB e coordenador do projeto CERTRA, o projeto pretende “dinamizar a produção de cereais tradicionais e criar uma verdadeira cadeia de valor, colocando produtores, moleiros, transformadores e consumidores a falar uns com os outros”.

Financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência, o CERTRA começou por identificar e caracterizar cereais tradicionais existentes em Portugal, selecionando, entre outros, o trigo barbela, o centeio ibérico e os milhos verdeal e pigarro.

Segundo o investigador, os resultados demonstram que estes cereais “têm melhor qualidade organolética e vantagens para a saúde, sobretudo quando usados em farinhas integrais”. Destacou ainda que o trigo barbela, por ter menos proteína e glúten, “pode ser melhor tolerado por algumas pessoas”, embora produza menos que os trigos modernos, o que exige um “preço mais elevado” e um “claro reconhecimento no mercado”.

Já Miguel Novoa, da Palombar, sublinhou a ligação entre agricultura e conservação da natureza. O projeto Life SOS Pygargus visa a proteção do tartaranhão-caçador, uma ave que nidifica tradicionalmente em campos de cereal. “Ao aumentar a área semeada com cereais como o trigo barbela ou o centeio, estamos simultaneamente a proteger uma espécie ameaçada e a criar um nicho de mercado com grande potencial gastronómico”, esclareceu, destacando que a recente Estratégia Nacional dos Cereais pode “abrir caminho a uma maior autossuficiência” e a um futuro “mais rentável” para os cereais tradicionais.

Já o presidente da União das Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, Mário Gomes, destacou que a iniciativa é fulcral para a recuperação do património agrícola e cultural, sendo que a junta se associou ao projeto por acreditar na “importância de recuperar os cereais antigos e integrá-los na Grande Rota dos Moinhos e dos Lameiros”, inaugurada há três anos e tendo como temática os lameiros de montanha e antigos moinhos ao longo das margens da Ribeira de Baçal e do Rio Onor, elementos identitários da paisagem e das práticas produtivas destas localidades.

A freguesia conta com nove moinhos, todos eles recuperados, mas apenas em dois deles há pessoas a moer cereal para os animais.

A jornada terminou com uma prova de pão de trigo barbela, para aos participantes experimentarem o que esteve em debate.

Escrito por rádio Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves