Inventário de arte sacra em Bragança já permitiu recuperar imagem desaparecida há 150 anos

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Seg, 24/01/2011 - 10:43


Nos últimos sete anos foram inventariadas 11.275 peças de arte sacra, com importância histórica, artística e religiosa na diocese de Bragança-Miranda. O inventário iniciado pela associação Terras Quentes em 2004 já permitiu inclusive fazer regressar à Igreja Matriz de Macedo de Cavaleiros uma peça desaparecida há mais de 150 anos.

A primeira parte do inventário foi apresentada no sábado, em Macedo. Mesmo tendo sido o único inventário religioso comparticipado a 55% pelo QREN, quando os restantes a nível nacional o foram a 75%, a Associação Terras Quentes catalogou perto de mil peças a mais do que as que estavam previstas no ponto de partida. Carlos Mendes, arqueólogo responsável pelo inventário, não esconde a indignação.

  “Isto é uma verdadeira mais pobre da Europa. Isto só veio sobrecarregar as autarquias”, disse.

Contudo, das câmaras que faziam parte desta 1ª fase do inventário apenas Alfândega da Fé, Freixo de Espada à Cinta e Macedo de Cavaleiros honraram os compromissos financeiros. Os restantes quatro municípios ficaram-se pela assinatura do protocolo.

 

 “Tivemos autarquias como Moncorvo, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor que não honraram os compromissos que tinham. E junto à candidatura ia um termo de responsabilidade assinado por cada presidente dessas câmaras”, sublinhou.

 

Parceira neste inventário está também, para além das Câmaras e Universidades, a Polícia Judiciária. O trabalho de inventariação já permitiu a recuperação de uma imagem, que estava num antiquário em Lisboa, e que terá saído de Macedo, com contornos ainda não apurados, na altura de uma reestruturação de fundo na Igreja no início do século XIX.

 

 “É uma imagem com cerca de 1,30m que estava na montra. Faz parte de um conjunto de cinco imagens que estavam na igreja. Imediatamente fomos ao local e entrámos em negociações com o antiquário.”

 

A imagem no valor de várias dezenas de milhares de euros foi adquirida pela Câmara Municipal de Macedo e restaurada gratuitamente pela Associação Terras Quentes, tendo sido depois oferecida à Paróquia de São Pedro.

 

Presente na apresentação de resultados do inventário esteve o bispo da diocese de Bragança-Miranda. D. António Montes Moreira considera que o inventário tem uma importância que ultrapassa as paredes da diocese e espera que as dificuldades económicas não impeçam a segunda fase.

 

“Os bens da igreja são bens de toda a população. São resultado do esforço e comparticipação de muita gente da nossa região. É importante que fique registado”, sublinhou o bispo da diocese.

 

Vitor Serrano, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, uma das instituições de ensino superior envolvidas no inventário considera que esta catalogação do património religioso prova que Bragança não é uma região periférica em termos de património.

 

 “A ideia de que estávamos numa periferia foi completamente esbatida, não corresponde à verdade”, sublinhou o investigador.

 

A Associação Terras Quentes apresentou, no sábado, em Macedo de Cavaleiros os resultados da 1ª parte do inventário da diocese de Bragança-Miranda. Uma candidatura de cerca de 560 mil euros, que ainda recebeu apenas 18 mil euros do QREN, ou seja, cerca de 6% da comparticipação prometida.

Escrito por CIR