Ter, 31/03/2015 - 20:36
Helena Fidalgo conhece de perto os constrangimentos na assistência a doentes com AVC para quem vive mais afastado da capital de distrito. A 20 de Março do ano passado, a mãe sentiu os primeiros sintomas de AVC. Helena conta que foi de imediato contacto do INEM, através do 112. E desde logo considera que os procedimentos não foram os mais adequados, uma vez que “só na estrada” terá sido decidido o encaminhamento para Bragança. À chegada a Bragança, Helena ficou incrédula ao verificar que a Via Verde não tinha sido accionada previamente, tendo a doente sido sujeita a um processo de triagem. “Supostamente uma Via Verde implica que, quando um doente chega ao sítio, esteja tudo preparado para o receber, para isso é que as equipas de socorro fazem a avaliação e o acompanham. No caso da minha mãe, entrou na zona da urgência, foi encostada à parede. Posteriormente foi chamada para a triagem, foi observada pela enfermeira, que lhe fez uma série de questões e só depois é que foi chamada para urgência. Não me parece que isto seja o procedimento de uma Via Verde”. Helena Fidalgo considera ainda que a mãe reunia todos os requisitos necessários para a administração de fibrinólise, o medicamento que pode reverter as sequelas causadas pelo AVC, Mas que não chegou a ser administrado. A filha da doente lamenta que a dificuldade de acesso ao hospital e a descoordenação das entidades competentes tenham influenciado o estado de saúde da mãe, que perdeu totalmente a sua independência. Factores que teme que prejudiquem também a saúde de outros transmontanos. “Como a minha mãe, há milhares de pessoas na região. Numa doença como esta, em que nos fazem todos os dias alertas a dizer que o mais importante é a rapidez, não se compreende esta visível descoordenação que aqui existiu, de algum lado. Numa unidade em que existe Via Verde de AVC e a doente chega lá e não está accionada, alguma coisa falhou”. Helena Fidalgo apresentou várias queixas às autoridades competentes, incluindo à Unidade Local de Saúde do Nordeste e ao Instituto Nacional de Emergência Médica. O INEM respondeu que “foi efectuada a correcta triagem clínica da situação” e accionadao o meio de emrgência “adequado”. O Instituto Nacional de Emergência Médica esclarece ainda que “foi contactado o Hospital de Bragança com vista ao precoce accionamento da Via Verde de AVC para que desta forma, quando a doente desse entrada nas urgências da respectiva Unidade de Saúde, já estivesse uma equipa médica a aguardar”. Por sua vez, na carta enviada a Helena Fidalgo, a ULS diz que “não recebeu o serviço de urgência de Bragança qualquer informação do CODU ou dos meios pré-hospitalares, o que não prejudicou a avaliação e decisão terapêutica uma vez que a equipa que realiza trombólise em doentes com AVC isquémico está sempre disponível neste serviço de urgência”.
A ULS do Nordeste informou ainda que “foi activada a via verde de AVC durante o episódio de urgência, tendo sido desactivada posteriormente atendendo ao tempo de duração dos sintomas e após avaliação do risco/benefício da terapêutica trombólitica”. A Unidade de AVC da ULS do Nordeste, localiza-se em Macedo de Cavaleiros e recebe doentes quando a doença já está instalada e após serem vistos nos serviços de urgência. O responsável por esta unidade, Jorge Poço, salienta a importância de contactar o INEM o mais rapidamente possível, de forma a que os doentes possam ser encaminhados para o local mais adequado e, se for o caso, lhes possa ser administrada fibrinólise. “Os doentes que têm um AVC, seja em Freixo de Espada à Cinta ou em qualquer outro lado, o que devem fazer é recorrer o mais rapidamente possível aos cuidados de saúde mais próximos. Daí serão encaminhados para o local mais correcto. Se houver possibilidade de haver um tratamento trombólito devem ser assistidos numa unidade hospitalar onde isso possa ser feito, neste caso o hospital de Bragança, ou no caso de doentes mais a sul do distrito, poderão ser encaminhados para Vila Real. Numa fase posterior, podem ser encaminhados para a Unidade de AVC”,descreve Jorge Poço. Actualmente, a Unidade Local de Saúde do Nordeste regista entre 400 a 420 casos de AVC por ano. O tempo entre os primeiros sintomas a supervisão médica não deve ultrapassar as 4 horas e meia. Escrito por Brigantia.