Qua, 21/06/2023 - 09:22
Há cerca de 300 mil em todo o país, de acordo com o Plano Estratégico e de Acção do Javali, feito pela Universidade de Aveiro, e que é promovido pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. Para diminuir o efectivo, foi alargado o horário de caça, além das noites de lua cheia, mas as associações de caça e de agricultores não consideram ser suficiente.
Os agricultores da região sofrem com os prejuízos causados pelos javalis. Um deles foi Ernesto Marrão, de Deilão, no concelho de Bragança. Tem vacas e porcos e, por isso planta cereal, um regalo para os javalis. “É preciso fazer por cereais. Estraga os cereais, tenta enroscá-los e estraga-os. A procurar centeio estraga tudo e no milho é igual, à procura da espiga tomba-os todo e dá cabo deles e nas uvas também”.
O agricultor admite que não recebe qualquer apoio do Governo para colmatar os estragos. O excesso de burocracia dificulta o acesso às ajudas. “É papel para aqui, papel para ali, é preciso isto, é preciso aquilo, em vez de ajudarem o agricultor, que eles andam aqui no terreno todos os dias, podiam ver os prejuízos aqui e ajudar de uma maneira muito mais simples, mas não, é só burocracias e não ajudam nada”.
De acordo com Sérgio Rodrigues, da Associação de Caçadores da Lombada, Bragança, o alargamento de horário pode ajudar a diminuir o número de animais, mas reconhece que não é suficiente. “Os javalis dão prejuízos na altura das castanhas, nos milhos, o ano passado nas uvas também, atacaram muito as vinhas, porque houve a seca, e no cereal. Temos feito correcções de densidade, em Novembro e Dezembro, mas isso não chega”.
A Confederação Nacional dos Agricultores (CNA) fez uma avaliação “negativa” do Plano de Estratégia e Acção do Javali. Segundo o dirigente, Vítor Rodrigues, esta flexibilização de horário é insuficiente e critica o Governo por não indemnizar os agricultores afectados. “O Governo continua a recusar tomar conta da questão das indeminizações pelos prejuízos causados aos agricultores. Por outro lado, as medidas que introduz, o controlo populacional que se exigiria já, é apontado para daqui a 10 anos, ignorando as consequências que isso pode ter. Introduz apenas medidas ao nível de flexibilização da caça, o que é manifestamente insuficiente ate porque o número de caçadores tem baixado”.
Para o presidente do Clube de Monteiros do Norte, a medida do ICNF também peca por “tardia” e, mais do que isso, é “insuficiente”. Eduardo Fernandes defende uma alteração da lei da caça. “A caça menor tem vindo a decrescer assustadoramente, tendo o javali contribuído para isso. O número de caçadores, a nível nacional, tem vindo a diminuir drasticamente porque há alguns que se dedicam só à caça menor. O Estado, em minha opinião, não vê bem esta situação”.
Perante esta “tendência crescente de aumento de javalis”, questionada sobre se o alargamento do horário para os caçadores poderem matar estes animais é suficiente, Sandra Sarmento, directora Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Norte, disse que é preciso reforçar esta medida. “Temos agora o edital que permite a correção de densidades. Naturalmente, é um contributo, mas temos que reforçar esse contributo porque o que o estudo aponta é que é preciso actuar na redução do efectivo no território mas também ponderar outras medidas que ajudem a minimizar os prejuízos. É uma medida importante, que tem que ser continuada, mas complementada com um conjunto de outras medidas, desde logo com sensibilização, envolvimento de todo o sector e com medidas que ajudem a mitigar as implicações da sobreabundância de javalis”.
Quanto ao facto de a Confederação Nacional de Agricultores reclamar que sejam pagos os prejuízos provocados por estes animais aos agricultores lesados, Sandra Sarmento disse que o ICNF, que tem sob sua gestão a zona de caça nacional da Lombada, “tem feito esse percurso de pagamento dos prejuízos que aí existem”.
Segundo o Clube de Monteiros do Norte, este ano já se abateram mais de dezassete mil e setecentos javalis.
Escrito por Brigantia