Rendas "insustentáveis" em Bragança obrigam trabalhadores a partilhar casa e estudantes a partilhar quarto

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Qua, 15/03/2023 - 09:12


Quem procura casa ou quarto para arrendar, em Bragança, diz que os preços são “insustentáveis”

Até os próprios agentes imobiliários afirmam que nunca viram o mercado de arrendamento como agora e que o valor dos imóveis está desfasado da realidade.

João Pedro Pereira, de 29 anos, é de Felgueiras e vive em Bragança. Escolheu a cidade para estudar e por cá ficou, depois, a trabalhar. Há quase seis anos que o faz e nunca conseguiu viver sozinho. Quando começou a trabalhar ganhava menos e, por isso, não conseguiu logo aventurar mas agora, que ganha mais, não tem dinheiro suficiente para arrendar uma casa sozinho por causa dos preços que se praticam.

“Partilho casa com um colega meu e já há cerca de três anos que moramos juntos e ando à procura de casa, mas com os preços que praticam neste momento é complicado arranjar uma casa para morar sozinho, por causa das despesas. Se eu deixar esta casa não consigo arranjar nada a este preço, muito menos um T1. Tenho encontrado casas a 350 e 400 euros, se ganho o salário mínimo, é metade. Este ano vou fazer 30 anos e já é mais do que na altura de seguir a vida sozinha, os meus pais nesta idade já tinham mais que vida feita”, contou.

Felipe Cazarin é um dos exemplos de jovens estudantes que viu a renda subir consideravelmente. Partilha o quarto com a namorada e no espaço de um ano passaram a pagar 120 euros cada um.

“Era 90 euros a minha parte mais 90 da minha namorada, o total era 180 por quarto, mais as despesas. Agora estamos a pagar 120 cada um. No verão procuramos casa mas não tinha muita coisa disponível e o que tinha necessitava uma caução muito alta, encontrámos alguns em que a caução é de 800 ou 1000 euros”, disse.

A procura é bastante, mas a oferta não consegue responder, o que fez disparar o preço das rendas. Telmo Garcia é proprietário da imobiliária Imoencontre e conta que as rendas quase duplicaram e há muitas casas que nem têm condições para serem habitadas.

“Cheguei a arrendar T1 sem móveis a 180 euros, mais tarde passaram para 220 já com móveis e hoje estou arrendá-los a 350 euros e no dia que se põe o anúncio o apartamento é arrendado. Os preços estão completamente desfasados da realidade. Muitas vezes falo com os estudantes e sou o primeiro a dizer-lhes que se não fossem eles, muito provavelmente, algumas casas daqui da cidade, nas quais até já entrei, nem sequer seriam arrendadas porque não têm as condições mínimas de habitabilidade, casas com humidade, infiltrações”, referiu.

O empresário acredita que a procura elevada por casa deve-se ao crescimento do Instituto Politécnico de Bragança. As poucas casas que existem livres na cidade estão a ser arrendadas aos estudantes, o que impossibilita que as famílias consigam encontrar um imóvel. Até porque para os proprietários, os ganhos nem se comparam.

“Uma pessoa que tenha um T3 com uma sala e já conheci casos em que a sala, se tiver uma área considerável, ainda é dividida em dois e fazem lá dois quartos, estamos a falar de cinco camas na ordem dos 150 a 180 euros por cama, veja-se para o preço para que vai um T3 e é normal que esses proprietários face a essa rentabilidade jamais vão direccionar esse apartamento para uma família”, afirmou.

Eugénia Batista, da imobiliária Último Pilar, em Bragança, tem poucos T1 e T2 para arrendar e quando ficam disponíveis diz que são logo arrendados. Trabalha no ramo há 28 anos e afirma que os preços praticados não se justificam e que nunca viu o cenário como agora.

“Pra nós, quanto mais caros melhor, mas acho que são preços insustentáveis para a nossa sociedade. As coisas têm que valer o preço delas e quem constrói também tem que ganhar deles, mas acho que chegou a um ponto de loucura total. A tendência tem que ser para descer, porque é insustentável. Mas os proprietários estão-nos a pedir para aumentar rendas, sempre”, frisou.

Perante o que se vive, muita gente começa a atrasar-se nos pagamentos.

“Hoje, um casal pagar uma renda de 500 euros mais água, luz e gás não é fácil, as pessoas começam a ter medo e vão ficar algumas rendas por pagar. Quando as rendas sobem muito, os ordenados não sobem, o custo de vida sobe bastante, nota-se logo que as rendas começam a ser pagas mais tarde, as pessoas começam a falhar, a juntar dois meses, já começamos a notar”, disse.

Ao contrário do que se verifica em praticamente todas as imobiliárias de Bragança, no Facebook é possível encontrar vários quartos e apartamentos para arrendar. Perante tanta oferta, a procura também é muita. Também aqui, o preço dos imóveis está muito mais caro e está na moda arrendar quartos duplos.

A página de Facebook "Arrendar quarto/casa em Bragança" é um bom exemplo de tudo isto. O que não faltam são propostas, tanto de quem precisa como de quem tem para oferecer.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves/Ângela Pais