Produtores de leite transmontanos preocupados com extinção das quotas

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Qui, 02/04/2015 - 11:16


  Os produtores de leite transmontanos estão apreensivos quanto ao futuro das suas explorações agora que o regime de quotas leiteiras terminou e muitos receiam ter de deixar a actividade. Com o fim do sistema regulador prevê-se uma diminuição do valor pago à produção e os efeitos já se fazem sentir.

Logo no primeiro dia do fim do regime, que aconteceu ontem, o preço pago ao produtor desceu um cêntimo. Higino Ribeiro, presidente da Associação de Produtores de Leite do Planalto Mirandês, destaca que o montante por litro, que ronda os 28 cêntimos, está actualmente no limiar de suportar os custos de produção.
O dirigente da associação teme mesmo “um descalabro e um colapso” deste sector.
“Vai ser a lei do mais forte e os mais fortes estão no norte da Europa. Os custos de produção estão elevadíssimos para nós, mais do que para esses países grandes produtores. É previsível que os preços baixem e nós não conseguiremos acompanhar a produção”, refere.
O Secretário de Estado da Agricultura admite que os pequenos produtores menos competitivos, como é o caso da maioria das explorações transmontanas, podem sofrer as consequências da liberalização do mercado. “Se a medida levar a um aumento da produção e não for acompanhado pelo consumo que é previsto alargar, aí pode levar a uma redução de preço. Significa que produtores que não sejam competitivos hoje podem sofrer com isso”, reconhece.
José Diogo Albuquerque adianta, no entanto, que o governo acautelou medidas compensatórias. “Os produtores vão ter um pagamento de 82 euros por vaca (leiteira), que é maior do que em Espanha. E foi assegurado na Política Agrícola Comum que houvesse um travão às perdas para que o sector do leite não ficasse prejudicado”, frisa.
Contudo, para Higino Ribeiro esse apoio é diminuto e não vai compensar as perdas previstas. “Isso é uma gota de água. Não vem colmatar a diferença em relação a países com que temos que competir. Não são esses 82 euros que nos vão salvar da situação precária que vamos atravessar”, entende o representante dos produtores de leite do planalto.
As quotas leiteiras, criadas há 30 anos, estabeleciam um limite máximo de produção por exploração de forma a assegurar o equilíbrio do mercado na União Europeia.
No planalto mirandês o sector do leite já teve um grande peso, quando mais de 300 agricultores vendiam 180 mil litros por dia. Agora o número de explorações está reduzido a 70, que produzem 40 mil litros. Escrito por Brigantia.