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Da azáfama do Litoral para o “Reino Maravilhoso” em busca de alma, gentes, histórias e património

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Ter, 14/05/2019 - 13:13


Rute Moura e João Vasco Henriques são os mais recentes habitantes da aldeia de Carrazedo, no concelho de Bragança. Para se fixarem em Trás-os-Montes, pelo caminho ficou a correria da grande Lisboa

Numa época em que se costuma fugir do interior para o litoral, em busca de outras oportunidades de vida, em Agosto do ano passado o casal fez precisamente o contrário. Com 42 e 45 anos, Rute Moura e João Vasco Henriques deixaram para trás a Costa da Caparica, na grande Lisboa, e vieram em busca de outra aventura por terras mais pacatas onde muito se fala de desertificação, onde o comboio já aos anos que não passa e onde se diz haver menos oportunidades. Rute, com 42 anos, foi educadora de infância 20 anos mas conta que estava cansada da vida que levava. “Estava a entrar num processo já de ruptura”, daí que deixar a vida que levava foi um “processo mais ou menos natural”. Mas o interior não foi escolhido ao acaso... o casal já nutria admiração por estas terras e pensar que “está desertificado” e que “precisa de pessoas novas e de outros projectos” ajudou a trazê-los para cá.

Desengane-se quem acredita que o impulso partiu de Rute pois João Vasco, afirma convictamente que, como escritor e actor, sempre o fascinaram as partes mais “recônditas” do património que nos calhou em sorte e... já que anda sempre com as malas às costas, porque não? Afirmando-se um “cidadão do mundo”, pensou: “Andamos a dizer que o interior anda desertificado? Vamos para lá, vamos ver!”.

Além das armas e bagagens trouxeram várias ideias e projectos para por aqui desenvolver e, em prol disso, já puseram mãos ao trabalho. Segundo contam, pretendem trazer as pessoas para as aldeias, descentralizar iniciativas, recuperar tradições e, sobretudo, valorizar as histórias e o património, em todas as suas vertentes. Por agora já têm em “andamento” a Peña Mourisca, uma associação ecológica e cultural, que “pretende trabalhar na área cultural, como teatro e poesia, e na parte mais ecológica e ambiental, através de, por exemplo, caminhadas e yoga na floresta”. Em Alimonde, vão construir um abrigo para burros para proteger a raça assinina de Miranda. A campanha de crowdfunding (https://ppl.pt/abrigoburro) já arrancou. É neste espaço, no abrigo para os burros, que também querem ver erguer-se “uma espécie de laboratório de permacultura”. Segundo garante João Vasco, mesmo à frente de casa, vão abrir também portas a um forno comunitário para “interagir” com os locais e recuperar saberes antigos.

Agradados com as gentes transmontanas admitem que muito têm também aprendido. “Temos sido muito bem recebidos por todas as pessoas, quer da nossa aldeia quer das vizinhas. Existe um certo espanto e claro que temos dificuldades, é uma adaptação que tem que ser progressiva”, contou João Vasco. Questionada sobre o que mais por aqui gosta, Rute diz que são coisas tão simples como “estar no alpendre a ouvir os pássaros, as abelhas, sentir estes aromas e ver esta paisagem imensa”.

A aldeia, que agora serve de casa a Rute e João Vasco, pertence à união de freguesias de Carrazedo e Castrelos, conta com pouco mais 30 pessoas, e tem a maior mancha contínua de carvalhos da Europa e um percurso pedestre onde se podem observar mais de metade das espécies de borboletas diurnas que voam em Portugal.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Carina Alves