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Distrito de Bragança perdeu metade da população em 60 anos

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Qua, 14/04/2021 - 09:21


Nos últimos 60 anos, o distrito de Bragança perdeu quase metade da população e o envelhecimento tem-se acentuado

Segundo os especialistas em demografia, a tendência de depressão demográfica na região pode demorar mais de quatro décadas a ser contrariada.

A localidade de Cabanas, em Macedo de Cavaleiros, é um retrato do envelhecimento, diminuição da população e esvaziamento das aldeias na região transmontana. Com cerca de uma dezena de habitantes permanentes, a aldeia é anexa de Soutelo Mourisco tal como Vilar D’ouro, nas três localidades há 31 habitantes segundo os censos de 2011.

Noémia Varandas, de 63 anos, uma das resistentes que há muito tomou a decisão de viver na aldeia, mas que fez trabalhos agrícolas sazonais em França, entende que a falta de trabalho é o principal problema que impede a fixação de pessoas.

“Não há trabalho o que é que estão aqui a fazer? Aqui não há nada, os ordenados não valem nada e as pessoas fogem para outros países”.

Quem ali resiste dedica-se à agricultura, mas o baixo rendimento da actividade não é muito atractivo. Na localidade no sopé da serra da Nogueira, as principais culturas são castanheiros e batatas e há dois rebanhos. Quando se preparava para levar os animais para o pasto Baldino Nunes contou que foi por opção que ficou na aldeia, mas para os filhos vê um cenário distinto.

“Tenho dois filhos. Um já tem casa em Bragança o outro ainda está por aqui. mas aqui as oportunidades são poucas”, acrescentou.

Tal como muitas outras localidades, Cabanas viu muitos filhos da terra emigrar ou escolher outras zonas do país para viver nas últimas décadas, e alguns estão agora de regresso e passam grande parte do ano na aldeia, como é o caso de Domitila Fernandes.

Segundo os demógrafos a situação de abandono populacional e envelhecimento pode demorar cerca de meio século a ser revertida. O especialista na matéria Paulo Machado disse que há uma conjugação de três factores que levam ao cenário actual de depressão demográfica nos territórios do interior do país.

“Os territórios onde não nascem crianças, as pessoas, sobretudo jovens, saem e onde os que ficam estão cada vez mais velhos. Os índices de envelhecimento são brutais”.

Além de um diagnóstico duro, o docente universitário, sociólogo e vice-presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD) tem uma visão pouco optimista da evolução populacional na região e considera que com as políticas actuais será difícil reverter esta situação.

“Os municípios têm investido para criar condições para que a natalidade aumente, mas também em relação aos incentivos ficais, a fixação em termos habitacionais, quando analisamos os resultados desse investimento e desse esforço os resultados são modestos, para não dizer que são nulos”.

Para Paulo Machado, contrariar a depressão demográfica tem de partir também de uma a mudança mentalidade.

“A solução estaria em levar as pessoas a reconhecer que os seus territórios tenderão a desaparecer”.

Envelhecimento acentuado é a regra nos concelhos transmontanos. O município de Vinhais é o mais envelhecido do distrito, com 42% da população acima dos 65 anos. Em 7746 habitantes, 3268 são idosos, segundo dados do INE de 2019. Para o autarca Luís Fernandes, a tendência explica-se com a falta de investimento e valorização por parte do poder central nestas regiões.

Alfândega da Fé também se destaca no índice de envelhecimento com 39,6% de idosos na população, bem como Torre de Moncorvo com 36,28% dos habitantes com mais de 65 anos, já o menos envelhecido é Macedo de Cavaleiros, no entanto, os idosos representam 26,10% dos residentes.

Nos últimos 60 anos o distrito de Bragança perdeu quase 110 mil habitantes, o que representa 46,8% do total da população.

Em 1960 no distrito de Bragança viviam mais de 233 mil pessoas. Segundo dados do INE de 2019 o número de residentes nos 12 concelhos tinha baixado para cerca de 124 mil.

Escrito por Brigantia

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro